Estudemos com afinco as obras do médium Chico Xavier - Entrevista
Ao final do ano do Centenário de Chico Xavier, Elias Barbosa (de Uberaba), relata os contatos com o médium, em função de sua amizade e do trabalho com mensagens e livros psicografados por Francisco Cândido Xavier
Reformador: Qual a sua motivação para elaborar o primeiro livro com mensagens familiares, psicografadas por Chico Xavier?
Elias Barbosa: Devido ao desespero dos pais, principalmente das mães que me procuravam, não só quando me encontrava presente no momento em que o médium Xavier estava psicografando, quanto em meu lar e, o mais das vezes, no consultório, onde muitas compareciam debaixo de uma depressão profunda, visivelmente com o processo de luto não resolvido. Grande parte delas alimentava, conscientemente, ideário suicida, numa época em que os timolépticos apresentavam efeitos colaterais desagradáveis. Em todos os casos, recomendávamos o estudo das obras de Allan Kardec e as de Emmanuel e de André Luiz, recebidas pelo nosso inesquecível Chico, sugerindo trabalharem na caridade, em nome do filho, da filha ou do cônjuge desencarnados em situações aparentemente trágicas.
Reformador: Na época, fez contato com os familiares dos Espíritos comunicantes, para análise das mensagens?
Elias Barbosa: Sim. Logo após a recepção da mensagem e a leitura dela, pelo nosso Chico, já que a maioria das mães e alguns pais choravam convulsivamente onde se encontravam sentados, sabendo, de antemão, que se tratava do filho ou filha que demandaram o túmulo. Eu procurava esses pais e solicitava a gentileza de me fornecerem os dados precisos e concretos das mensagens psicografadas que caracterizavam o estilo dos respectivos Espíritos comunicantes. A maioria, gentilmente, fornecia-me os dados comprobatórios da autenticidade da mensagem. Outras vezes, íamos até os hotéis em que se hospedavam, com vistas a nos contarem mais detalhes a respeito do Espírito comunicante, quando na Terra.
Reformador: Chegou a realizar alguma pesquisa nas referidas mensagens?
Elias Barbosa: Sim, a maioria delas, detalhadamente, sem qualquer preocupação científica. Numa das noites a que eu assistia, Chico psicografou uma página de um rapaz que se deu a conhecer por Wilson; sua mãe ficou o tempo todo em prantos, querendo, de toda forma, aproximar-se do médium. Tranquilizei-a dizendo-lhe que eu iria com ela até onde se encontrava o caro Chico. Mas perguntei-lhe se tinha consigo uma foto e, se possível, um documento com a assinatura dele. Foi quando ela me mostrou a Carteira de Trabalho, não somente com a foto, mas também com uma nítida assinatura,
que era semelhante à que se encontrava na mensagem.
Todos os presentes ficaram emocionados e eu solicitei àquela senhora se ela poderia me emprestar o precioso material para tirar uma cópia fotostática, já pensando em publicá-la num livro em andamento. Assim o fiz, e depois coloquei-a num dos livros que organizei em parceria com Chico Xavier, tendo repercussão internacional, já que um livro traduzido no Brasil e editado pela hoje extinta Editora Bloch, de um autor inglês, trazia, na última página de sua bela obra, um estudo honesto sobre esta ocorrência, sem que ele houvesse constatado a documentação a foto e o fac-símile da assinatura do jovem trabalhador, que se transferiu para o plano extrafísico, por afogamento.
Reformador: Como dirigente espírita ou psiquiatra, teve oportunidade de interagir com o médium para o atendimento de pessoas em desequilíbrio?
Elias Barbosa: Várias vezes, com pacientes internados no Sanatório Espírita de Uberaba, onde trabalhei, a partir de 1o de maio de 1969, na condição de médico-assistente do Dr. Inácio Ferreira, desencarnado em 1988, sendo este substituído pelo Dr. Adroaldo Modesto Gil, que também veio a retornar à Pátria Espiritual, no dia 14 de setembro de 1993. Com o decesso deste grande amigo, passei a ser o diretor clínico, sem qualquer vínculo empregatício, até janeiro de 2002, quando dois de meus ex-alunos procuraram adquirir o título de especialistas em psiquiatria, um deles passando à direção do nosso tão querido nosocômio, onde trabalharam, com amor, dona Maria Modesto Cravo, o Sr. Manoel Roberto, além dos fundadores do Centro Espírita Uberabense, que completará o seu centenário, a 14 de janeiro de 2011, tendo à frente o professor Antônio Augusto Chaves. Mas, voltando à pergunta que me foi formulada, em todos os casos gravíssimos, geralmente de esquizofrenia e anorexia nervosa, eu sempre solicitava ao Chico ajudar-nos no Sanatório, às vezes com simples imposição das mãos sobre os enfermos.
Um dos casos mais graves foi o de uma jovem adolescente que entrou num quadro psicótico de esquizofrenia paranóide, com delírios persecutórios e alucinações auditivas e visuais. Ela somente permanecia no quarto forte, devido à sua agressividade incontrolável. Depois que apliquei nela uma série de onze sessões de eletrochoques (ECTs), sem qualquer resultado, resolvi solicitar ao Chico a sua imprescindível colaboração. Ao observar a moça, o inesquecível médium me disse: “Você fez muito bem em fazer esta série de eletrochoques nela, porque esta moça está, ainda, na região dos ombros e pescoço, cheia de corpos ovóides a ela agregados, e tal recurso terapêutico utilizado fará com que ela, pelo uso dos medicamentos já prescritos, entre em estado de remissão, jamais podendo afastar-se das fileiras espíritas, usando, corretamente, os medicamentos prescritos pelos seus psiquiatras, amparada pelos amigos espirituais que supervisionam a sua reencarnação”. Outros casos ocorreram, mas o espaço obriga-me a colocar, aqui, o ponto final, nesta questão.
Reformador: Como foi a elaboração do livro biográfico No Mundo de Chico Xavier? Contou com a colaboração do médium?
Elias Barbosa: Certa noite de terça-feira em que, invariavelmente, Chico nos dava a honra de sua visita para conversarmos sobre os livros espíritas, solicitei-lhe se eu poderia iniciar uma série de entrevistas com ele, a fim de que os leitores do futuro pudessem constatar as suas próprias palavras, a respeito de sua mediunidade, que já se estendia por 40 anos, e ele disse: “Podemos começar agora, meu filho!”. De posse de um caderno, eu ia fazendo as perguntas e ele dava as respostas imediatas, sempre me lembrando tratar-se de Chico Xavier/Emmanuel. Das 11 às 3 horas da madrugada seguinte, eu datilografava todas as entrevistas, inclusive as que foram feitas na própria casa do Chico, quando ele solicitava ao Sr.Weaker Batista para avisar-me que estava disponível para a nossa tarefa. Tão logo ia tomando conhecimento de outras entrevistas com o médium, apressei-me a aproveitá-las todas, como se encontram dispostas no livro, que consumiu horas e horas de agradável e abençoado trabalho, lembrando-me do biógrafo de Francisco de Assis (1182-1226), seu contemporâneo, ao registrar o instante em que o poverello se despediu de seu pai, afirmando, alto e bom som: “A partir de hoje só tenho um Pai que é Deus. Guarde, por favor, as minhas vestes!”.
Reformador: Com base em sua convivência com Chico, como analisa o aspecto humano da pessoa Chico Xavier e a missão dele como médium?
Elias Barbosa: Ao ficar conhecendo Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, na noite de 25 de abril de 1955, graças à gentileza de dois amigos de São Paulo, ao me aproximar dele, nunca vi pessoa tão humilde e educada; referiu-se à minha querida mãe, que viria a desencarnar em 1984, como sendo um Espírito que ele conhecia há séculos e nascera com uma missão de muita importância na condução da família, de seus oito filhos, netos e bisnetos. Nada disse a meu respeito. De 1955 a 1959, ele, Chico Xavier, e outros amigos, em companhia de Waldo Vieira, nos períodos das férias escolares, iam a Monte Carmelo,Minas, onde frequentava todos os centros espíritas, recebendo orientações para centenas de pessoas que vinham de cidades vizinhas. Muito aprendemos – e quanto! – com o nosso inesquecível amigo.
Reformador: O que você recomenda ao leitor, por ocasião das comemorações do Centenário de Chico Xavier?
Elias Barbosa: Estudar, com afinco, a Doutrina Espírita, assim como todos os livros deixados por Allan Kardec, inclusive os 12 tomos da Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos; dos seguidores da Terceira Revelação, dentre outros, Léon Denis e Ernesto Bozzano, percorrendo, por fim, todas as obras recebidas pelo médium Xavier, não somente as dos prosadores, mas, principalmente dos poetas, reverenciando Chico e Jesus, principalmente a edição belíssima do Parnaso de Além-Túmulo, recém-lançada para alegria de todos nós; Trovadores do Além; O Espírito de Cornélio Pires; toda a coleção de André Luiz, a começar por Nosso Lar, best-seller que já se transformou em filme, além de tantos outros que retratam a vida incomparável do nosso querido médium Francisco Cândido Xavier.
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